terça-feira, 26 de outubro de 2010

O irritante na música: unhas


Confesso que sou vaidosa. Ok, às vezes não parece, mas eu realmente sou (juro)! Gosto de arrumar os cabelos, cuidar da pele e fazer minhas unhas. Os homens não devem entender muito bem o poder que as unhas têm, mas eu explico: uma mão bem feita traz a sensação de maior feminilidade, sabe?

Pois é, o violão anda boicotando as minhas raízes femininas.

O processo de produção é extenso: primeiro, é preciso tirar o esmalte antigo com acetona, o que costuma detonar, já de cara, a resistência da unha. Depois, lixamos no formato que bem entendemos e passamos óleos e cremes para fortalecer as unhas e amolecer as cutículas. Quando elas já estão bem molinhas e foram submersas por alguns segundos em água morna, empurramos e cortamos com um alicate o excesso de pele, para que o esmalte não fique com "calombinhos" perto da divisão entre unha e dedo.

Então, vem o mais chato: passar o esmalte! É preciso ter muita destreza e paciência, pois o menor dos movimentos errados pode comprometer a sua arte. Certa vez, numa aula sobre cultura japonesa - não me pergunte o que eu fazia lá, pois eu mesma não sei - a professora disse que os kanjis clássicos, aquelas letrinhas japas feitas em tecido com pincel e tinta por japoneses de rabinho de cavalo e roupão de banho, só seriam estampados com perfeição se a pessoa estivesse em paz por dentro. Ou seja, se ela estiver nervosa, de saco cheio, cólica ou fome, a letra sairá tremida e o trabalho ficará uma bosta.

Fazer as unhas é mais ou menos isso. Se vem um infeliz e fica aporrinhando, toda a mão vai ficar feia e a mocinha, cujas unhas necessitam de cuidados especiais, ficará extremamente irritada.
Pois bem, se eu consigo passar por todo esse processo com sucesso, já é uma alegria extrema, não é?
Não.

Imagine que estou com as unhas feitas - geralmente, uso esmaltes vermelhos ou cor de rosa - e, então, vou ensaiar, pois toda quarta-feira tenho ensaio com os meninos. Duas horas de ensaio são o corredor da morte das unhas lindas e bem feitinhas. Todo o glitter, o cintilante, a unha bem lixada, a cor viva... tudo vai para o ralo!

Pior ainda é pensar que se eu estiver sem o esmalte, o estrago é maior, pois, com o artrito das cordas, minha unha será esculpida em formatos pós-modernos.

É aí que tenho que escolher entre a estética e o prazer de tocar com a minha estimada banda folk. É claro que eu sempre escolho tocar, porém, não nego que vez ou outra sinto meu coração apertar e minha veia preguiçosa bombear mais sangue ao pensar que terei todo aquele trabalho de confecção plástica sobre os dedos.

Ser mulher cansa, mas compensa (às vezes). Tenho sérios problemas quando vou a lojas de instrumentos, mas conto em outra oportunidade.

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