Meu primeiro violão não era meu. Era um Di Giorgio que um dia foi da minha mãe, mas que, com o tempo, encostou-se numa parede e por lá ficou até o dia que resolvi tirar aquela capa de pano marrom e ficar arranhando as cordas para ouvir o barulhinho.
Até hoje esse é meu barulho preferido. Sabe aquele som ecoado no hiato entre os acordes? Pois é, eu passei muito tempo da minha infância nesse intervalo, tentando decifrar os mistérios dos sons que aquele instrumento desconhecido me propunha.
Então, com 12 anos, comprei uma revista e aprendi a montar meia dúzia de acordes que, ao longo do tempo, foram evoluindo, assim como minha técnica vocal - também autodidata - se aprimorou.
Aquele Di Giorgio antigo foi meu amigo por muitos anos. Ele me acompanhava nas aulas do colégio, nas festinhas, nos churrascos, nos dias de solidão no quarto, mas, como em todo relacionamento, um dia tudo mudaria.
Numa de suas visitas, a faxineira acidentalmente derrubou o violão de 27 anos, que teve o headstock separado do braço. Ela, numa tentativa de esconder a besteira que havia feito, fixou as peças de madeira com atrito e só descobri o que tinha acontecido quando, ao tentar afiná-lo, percebi que o headstock estava solto.
Meu professor examinou o violão com olhar clínico, deu um suspiro e disse "é, não tem jeito". Naquela tarde tive aula na escola. Me lembro de ter chorado a tarde toda, como se algum membro da minha família tivesse morrido. De fato, naquele momento alguma coisa já fazia parte da minha vida. Foi com ele que aprendi minha primeira música, conquistei meu primeiro fã (e, consequentemente, alguns beijinhos despretensiosos). Contudo, foi especialmente com ele que descobri o real prazer de não apenas tocar, mas de incorporar as notas musicais como se fossem minhas.
Algum tempo depois ganhei outro violão, mas nunca foi a mesma coisa. Eu teria que viver novas experiências com ele para que pudesse criar algum vínculo.
Penso nos meus violões como grandes paixões que vivo. Atualmente tenho três, porém, tenho um preferido o qual sempre uso. Olho para ele e penso "nunca poderei vendê-lo", pois foi com ele que escrevi o First Date Songs e ele que me acompanhou quando eu estava triste. No dia em que o comprei lembro de ter falado para a amiga que me acompanhava "esse é meu novo namorado" e ela riu, como se fosse alguma piadinha boba, mas eu falava sério: ele era a minha nova paixão.
Isso tudo soa como loucura? Não sei... tá tarde, né?
P.S: Essa menininha esquisitinha na foto sou eu e o violão é o Lennon :)
Eu chorei quando vendi meu Eagle
ResponderExcluir:(
Olha que engraçado, meu primeiro violão foi um Di Giorgio também, e tenho ele até hoje! S2
S
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